quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Crítica de O Membro Decaído por Cid Nader

O garoto Lucas Sá, ainda estudante universitário, já anda frequentando festivais com seus curtas, quantitativamente de maneira surpreendente: que me lembre, este é o terceiro filme dele (dirigindo ou codirigindo) que comento no site. O mais incrível ainda é notar que tal surpresa se dá não somente na média de trabalhos feitos espalhada pelo seu número de dias vividos, mas que parece já ter surgido com capacidade para a coisa, e que vem concretizando curtas de evidente reconhecimento nas manipulações dos elementos básicos no cinema, além de constantes ousadias estéticas como parceiras (sempre) desejáveis. 

 Não que esse O Membro Decaído seja absolutamente irretocável nos resultados (esses, os estéticos) obtidos, mas é que as tentativas são tão interessantes, que fica fácil relegar pequenos problemas ao fato de ser de alguém ainda em processo de aprendizado que se obtém na escola: as imagens que evitam a ostentação das cabeças das pessoas que passarão pela história (bem-vindamente não explicada por mastigação total dois dados), e as opções de posicionamento e colocação da câmera para atingir esse e outros intuitos (lembro da que vaio embaixo do carrinho do supermercado), por vezes carecem de um pouco mais ajuste, de certeza nos quadros imaginados, por exemplo. Mas tais “detalhes” (porque são “só” detalhes ante o todo) perdem significação avaliativa ante o restante: porque há um contar os fatos que se dá justamente pela opção das lentes se fazendo o “modo narrador” principal, que entre sutilezas (um breve solavanco, ou uma janela semiaberta), beleza gerada (a pessoa que cruza um carro sentada na moto de braços abertos, como se “voando” levemente), ações espertas de tentativas na textura (o famoso guaraná Jesus – lá do Nordeste original dele – escolhido para compor com outros elementos de matiz semelhante, quando diluída), ou ajuste veloz (de enquadramento certeiro e direcionado a partes específicas – olhos, cabeça...) de cortes rápidos e emendas na cena final, por exemplo, o que funciona como raro modo de comprovação da necessidade no “bem tratar” as imagens (sabendo-se que são os elementos únicos como imprescindíveis nessa arte); e, para dar mais credibilidade ainda ao filme há a costura de dados que “narrarão” o mote, a história, com peças que deverão ser catadas e ajuntadas, revelando situação de não facilitada exposição por linearidade narrativa (filme que se conta por “alinearidade”, por vias paralelas, por “subtextos”), que exigem atenção do espectador, mas que estão todas lá, somente pedindo atenção para criar a liga na mente de quem vê.  

Talvez o curta pareça mais raro na qualidade devido mesmo à idade de Lucas, mas quando se nota a opção de utilização de um elemento como o guaraná Jesus - e sua cor esdrúxula - “simplesmente” para botar “fé estética”, nota-se, também, esperança.